Graça
Elizabeth Alves Pinto
Introdução
Vamos
começar com uma ilustração:
“Uma
prostituta veio falar comigo em terríveis dificuldades. Doente, sem lar,
incapaz de comprar comida para si e para sua filha de dois anos, ela alugava a
filha e por uma hora ganhava o que ela mesma ganhava numa noite inteira. Disse
que tinha de fazê-lo para sustentar o vício das drogas.
Eu
mal aguentava ouvir aquela sórdida história. Eu me sentia mal, legalmente
responsável – tinha que denunciar este caso de abuso contra a criança. Mas
naquele momento, eu não tinha idéia do que dizer àquela mulher. Tinha vontade
de vomitar.
Finalmente,
perguntei a ela se nunca tinha pensado em ir a uma igreja para pedir ajuda.
Nunca me esqueci do olhar assustado que vi em seu rosto. “Igreja”! Ela
exclamou. “Por que eu iria a uma igreja? Eu já me sinto terrível o suficiente.
Eles vão fazer que eu me sinta ainda pior”
(Extraído
do livro Maravilhosa Graça de Philip Yancey)
O
que aprendemos com esse texto é que por pior que uma pessoa se sinta a respeito
de si mesma, ela sempre procura por Deus como um refúgio.
Será
que a igreja perdeu este dom?
O
que aconteceu?
A
resposta para estas perguntas está numa palavra chave. Tudo se desenrola a
partir de uma palavra.
Com
o passar do tempo, notamos que as palavras perdem o seu valor ou tem o seu
valor transformado. Elas têm uma tendência a “se estragarem” com o tempo. Como
carne deteriorada.
Os
tradutores da versão King James usaram a palavra “caridade” para contemplar a
mais elevada forma de amor. Atualmente, ouvimos o seguinte protesto de desdém: “Não
quero a sua caridade”.
A
palavra graça é uma grande palavra teológica que ainda não foi “estragada”.
Procurando em todos os seus usos ainda conseguimos ver um pouco da glória
original. Ela sustenta uma civilização orgulhosa, lembrando que as coisas boas
não vêm de nossos próprios esforços e sim pela graça de Deus.
Vamos
ver como usamos esta palavra: damos “graças” a Deus antes das refeições
reconhecendo o sustento como presente de Deus; somos “gratos” pela bondade de
alguém; sentimo-nos “gratificados” com boas notícias; “congratulados” quando
temos sucesso; “graciosos” hospedando amigos. Quando uma pessoa nos serve bem,
deixamos uma “gratificação”.
Os
súditos britânicos chegam a chamar a realeza de “Sua Graça”. As editoras de
revistas têm o hábito de “agraciar” assinantes com alguns exemplares a mais
mesmo depois que a assinatura expirar. São “exemplares de graça”, enviados para
me incentivar a continuar assinando a publicação.
São
vários os usos da palavra. A “graça” é realmente surpreendente. Ela contém uma
essência do evangelho como uma gota de água pode conter a imagem do sol. O
mundo tem sede de graça em situações que nem reconhece. Para uma sociedade que
parece estar à deriva, não há melhor lugar para lançar uma âncora de fé.
As
grandes revoluções cristãs não vêm por causa de uma coisa que não era conhecida
antes. Elas acontecem porque alguém aceita radicalmente uma coisa que sempre
esteve aí. Estranhamente, descobrimos uma falta de graça dentro da “igreja”,
uma “instituição” fundada para proclamar o “evangelho da graça de Deus”.
Um
veterinário fica sabendo uma porção de coisas a respeito do dono de um cão –
que ele não conhece – apenas olhando o animal. O que o mundo fica sabendo de
Deus ao observar a igreja, os seguidores de Deus aqui na terra?
Quando
buscamos as raízes da palavra graça no texto grego, descobrimos um verbo que
significa “eu me regozijo, estou feliz”. A alegria e o regozijo não são as
primeiras imagens que vêm à mente das pessoas quando pensam na “igreja”. Elas
pensam em “santarrões”. Pensam na “igreja” com lugar para ir depois que tiverem
endireitado as coisas, não antes. Pensam em moralidade, não em graça. Lembrem-se
“Igreja!”, disse a prostituta, “por que eu iria lá? Eu já me sinto terrível!
Eles vão me fazer sentir-me pior”.
Esta
atitude vem parcialmente de um conceito deturpado, ou preconceito, dos de fora.
Quando visitamos abrigos, asilos, hospícios e vários ministérios dirigidos por
crentes cheios da graça podemos ver as bênçãos do Senhor em todos estes
lugares. Mesmo assim, encontramos este ponto fraco na “igreja”, a falta de
graça.
A graça está por toda parte, mas com
que facilidade nós a ignoramos...
O
testemunho de uma garota de 18 anos que saiu de casa para dançar a noite toda
num baile de carnaval nos dá esperança. Vestida com uma micro saia e com uma
blusa que mais parecia um soutiem ela foi convidada pelo seu acompanhante: “escuta,
eu preciso dar uma passadinha na igreja da minha mãe. Eu prometi pra ela dar um
alô antes de ir ao baile”. A garota nunca tinha adentrado numa igreja
evangélica, mas como o rapaz disse que só levaria uns minutinhos, ela cedeu.
Era uma vigília e a mãe do rapaz pediu que ficassem alguns minutos, fazendo
companhia a ela. Os dois consentiram. Saíram daquela igreja ás 6 horas da manhã
do outro dia! Sabe do que aquela garota lembra hoje, quase 30 anos depois? Que
todos, sem exceção, olharam para ela como se estivesse vestida dos pés à
cabeça. “Nunca fui tão bem tratada em toda a minha vida!”
Este
é o óbvio que precisa ser radicalmente resgatado. A graça está por toda
parte... A situação “correta” seria buscarem um paninho para tampar o corpo
quase nu da garota. Mas, em vez disso, a acolheram com graça, favor imerecido.
Se
procurarmos, cada um de nós tem vários relatos sobre graça para contar. Fica
claro que é mais fácil transmitir graça do que explicá-la. E amados irmãos, o
mundo não pode oferecer graça, a igreja pode.
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